domingo, 31 de janeiro de 2016

Sobre entrevistas e o processo de julgar pessoas


    No momento eu estou passando por várias entrevistas e a experiência me parece torturante. Passar pela situação de estar em uma sala com meia dúzia de pessoas te julgando, principalmente pelo que você sabe ou o que você é geralmente se baseando no background e na experiência de vida delas (que principalmente em lugares top tende a ser melhor do que a minha) é uma experiência opressora.
     Eu venho de uma família que os americanos chamariam carinhosamente de "white trash". Eu morei nos piores lugares - meus pais uma noite ouviram um assassinato na rua, embaixo da janela do quarto deles, do lado do sobrado onde nós morávamos em Osasco. Eu estudei em escolas cada vez piores, pra onde eu ia só pra passar por bullying e não aprender nada, até chegar ao ponto de eu, a melhor aluna da turma, dizer que eu não iria mais pra escola porque eu aprendia mais coisas em casa sozinha - e foi assim que eu aprendi inglês inclusive: o primeiro curso que fiz foi em Toronto, há dois anos e foi só um mês pra me tornar fluente. Dois anos de uma escola particular mediana em Osasco no ensino médio (que os meus pais só puderam pagar pra mim e não pros outros três) e uma bolsa de 50% num cursinho foram o que me levaram até a USP. Mas eu só entrei num curso que não era o que eu queria, que não era minha primeira opção e comecei trabalhar logo no segundo ano num estágio ruim num banco (não por escolha minha) que me deixava 5 horas por noite pra dormir. Esse trabalho me fez atrasar minha graduação em 3 anos e meio - justamente o montante de tempo que eu passei trabalhando lá. Pra tornar a coisa toda mais fácil, eu resolvi que não era aquilo que eu queria fazer da minha vida - que eu queria trabalhar com programação mesmo - e voltei a ser estagiária. Os dois primeiros anos me ajudaram bastante, mas por insegurança pela minha falta de formação, por problemas pessoais (desencadeados pelo fato de eu ser mulher e da minha criação) eu passei 4 anos num emprego que não me agregava nada e que só fez atrasar minha carreira. Resolvi praticamente começar zero de novo, decidi que não queria passar meu tempo trabalhando com programação em uma área em que as pessoas não se interessavam de verdade por isso, pedi demissão, fui estudar e enfiar minha cara pra aprender tecnologias novas e trabalhar com pessoas realmente boas dessa vez. Então não: não foi um caminho nada linear e simples. Mas eu tenho chegado onde eu quero e vou continuar chegando.
     E o meu ponto é o seguinte: não julgue as pessoas, como elas são ou onde elas estão baseado nas suas próprias experiências. Elas podem não estar no mesmo patamar que você e pode não ser porque elas são incompetentes ou pouco interessadas. Pode ser simplesmente porque elas tem um background diferente do seu. E se você precisar julgar quem elas são - como é necessário num processo de entrevista - faça isso pelas idéias delas e por onde elas querem chegar. É isso que vai fazer toda a diferença de verdade se você der pra elas a oportunidade que elas merecem.